O choro do androide

Fecho meus olhos, respiro profundamente e sinto meu corpo. Ele é real e percebo que me pertence, que o domino. Mas meu corpo não sou eu. Me dou conta de que quando corto minhas unhas, vejo na pia pedaços de algo que não é mais eu. E a unha que está no meu dedo? É eu ou simplesmente é minha? Sim, por que muitas vezes confundimos o que possuímos com o que somos. Mas está claro para mim: a unha não sou eu. Nem o dedo. Ou o braço. Se fosse cortado fora provavelmente o veria inerte, desumanizado, como vi minha unha. Com a diferença de que me faria muito mais falta. Se eu usasse uma prótese em seu lugar, seria menos humano por não ter um braço natural? E a prótese ligada a meu corpo, seria menos minha que o braço amputado? A prótese não partilharia sangue com o resto do corpo, não me transmitiria sensações, mas passaria a ser parte do corpo, ainda que artificial. E eu continuaria a ser o mesmo.

Então, o que sou? Continuar lendo